Berlim Proibida

Há muitas maneiras de conhecer uma cidade, mas poucas são tão divertidas como explorar o lado proibido de Berlim. Depois da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, a capital alemã foi capaz de se reinventar, e um turista desatento pode pensar que lá tudo é novo ou reconstruído.

Mas Berlim está repleta de “museus não oficiais”: casas e prédios abandonados, sobretudo na parte oriental da cidade. São antigos orfanatos, hospitais nazistas onde experimentos sinistros eram feitos, uma embaixada iraquiana, edifícios administrativos da Stasi (polícia política da Alemanha comunista), entre outros. Na companhia de Laura e Marcel, casal amigo que vive em Berlim, fomos explorar alguns desses lugares.

O rolê começou bem perto de Alexanderplatz, ponto mais importante da cidade. Em uma avenida cheia de lojas e prédios comerciais, um enorme edifício se destaca pelos tapumes de madeira fechando as entradas e as placas de “verboten” (proibido). Trata-se de uma antiga sede administrativa da Stasi.

Prédio administrativo da Stasi
Prédio administrativo da Stasi

Contornamos todo o prédio em busca de uma brecha para entrar, uma janela entre-aberta, uma porta esquecida. O site abandonedberlin, que divulga este tipo de lugar, já havia dado a letra que a dificuldade desta exploração era 9 de 10.

Não estávamos sozinhos na missão. Um polonês nos contou por mímica que já havia entrado no prédio para dormir, mas que agora ele estava totalmente lacrado. Nos pediu um cigarro e abandonou a tentativa. O melhor que conseguimos foi entrar em um quartinho que deve ter servido de abrigo para um morador de rua em uma noite de frio. Qualquer outra entrada nos prometia uma provável perna quebrada.

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Quartinho secreto

Tínhamos outras opções em nossa lista, tirada do abandoned berlin, e um antigo hospital infantil parecia emocionante o suficiente. Não foi difícil encontrar o Kinderkrankenhaus de Weißensee, a muitas estações de trem do centro.

Uma pequena cerca de metal era o único obstáculo a ser vencido. Rapidamente passamos para o matagal que um dia foi um jardim onde crianças doentes brincavam e começamos a explorar as casas que compunham o hospital.

O mais interessante lá dentro eram os pixos. Suásticas atropeladas por símbolos anarquistas, frases nazistas e antifascistas, assinaturas de casais apaixonados e muito grafite. O submundo das ideias proibidas batalhava ali dentro, protegido da moralidade e da limpeza que reinam na superfície da cidade.
O local claramente havia passado por incêndios e tudo parecia prestes a desabar. Depois descobrimos que partes das casas já tinham mesmo desmoronado. Em nossa exploração, escutamos barulhos de pessoas lá dentro, mas eles pareciam tão receosos de um encontro quanto nós.

Depois de algumas horas, resolvemos sair de lá e voltar a 2015, à Berlim dos turistas, dos velhinhos rabugentos e dos grupos de estudantes sorridentes. Mas recomendamos a quem visite a cidade que ultrapasse a barreira do “verboten” para descobrir que nem tudo é elegante e eficiente na capital alemã.

 

 

Mais lugares abandonados e suas histórias – http://www.abandonedberlin.com/
Além de mostrar onde são estes lugares, o site ainda indica a dificuldade, dicas de como entrar, o que levar e conta a história do pico.

 

Post feito da rodoviária de Zadar, Croácia

 

Anah y Leo

Anah é designer e infografista e Leo é jornalista e videomaker. Companheiros há "dois anos e pico", decidiram sair em uma busca mundo adentro. <3