Por quatro meses e alguns dias vivemos na Argentina. Passamos por vinte e tantas cidades e fizemos de três delas nossas casas. Nesse tempo podemos dizer que nos tornamos um pouco argentinos também, embora tenhamos ultrapassado o nosso período de permanência permitido. Não gostamos muito das autoridades de imigração.
Pela manhã, não podemos dizer que acordamos antes de comer media lunas e tomar um bom mate. Já temos nossa própria térmica e compramos um pequeno “carregamento” de erva para enfrentar os próximos países, que, estranhamente, não têm o costume mateiro. Na Bolívia, o mate ganhou folhas de coca como ingrediente obrigatório.
À noite, fernet com coca-cola é o que tomamos nas rodas de amigos, quase todos eles argentinos. Descobrimos que, na verdade, eles são muito parecidos com a gente. Têm formas quase idênticas de contar piadas, charlar sobre futebol, compartilhar tudo e amar odiar os gringos. Afinal, o que vêm fazer no nosso continente sem falar espanhol? (nem português, claro).
Quando tocamos violão, não podem faltar músicas de Onda Vaga, Enanitos Verdes (“Lamento Boliviano” é uma canção que todo violeiro deveria aprender), e algumas cumbias que sempre causam risadas nos argentinos. Como esses brasileiros aprenderam a tocar música villera?
Nosso sotaque também os surpreende. Podemos dizer que aprendemos a falar espanhol na Argentina. E podemos dizer que falamos argentino. A língua que eles falam, definitivamente, não é a mesma que falam os outros hispano-americanos. O vos no lugar do tu, o “che” para chamar a qualquer um, o “boludo” para se referir a um amigo ou a um idiota… São muitos exemplos da riqueza desse idioma falado somente por argentinos e uruguaios. E agora por nós também.
O churrasco virou asado, que é feito de um modo um pouco diferente, normalmente com madeira e a grelha bem baixinha. É difícil explicar, melhor deixar para fazer um para os amigos quando voltemos ao Brasil. Apesar disso, ainda preferimos a carne brasileira, para indignação dos amigos argentinos.
E são muitos, os amigos argentinos. É muita a gratidão pelo recebimento que tivemos nesse país. A estúpida rivalidade alimentada no Brasil se limita ao futebol e, mesmo assim, só quando eles resolvem defender o Maradona em relação ao Pelé. Para nós, tanto faz.
Esperamos voltar em breve. Mas conforta saber que continuaremos encontrando argentinos durante toda essa viagem. Como nós, eles adoram conhecer este maravilhoso continente. Gracias, boludos! Nos re contra gusta su país!