A semente da cevada é muito seca e pontiaguda. Um saco de sementes tem 50 quilos. Com dois quilos, se planta cevada em duas fileiras de 50 metros de terra arenosa. Cada fileira que percorríamos nesta missão parecia crescer ainda mais. O horizonte mostrava a imensidão da vinícola – chamada merecidamente de ‘The End’. Ao fim do dia, os cortes nas mãos e os calos nos pés denunciavam: a escola e a faculdade não preparam ninguém para plantar cevada, só para beber cerveja.
Nada disso seria um problema, não fosse nosso capataz alemão, que conhecemos pelo site Workaway, nos seguindo em seu trator e cobrando mais agilidade.
Ainda estava escuro quando, às seis da manhã do quinto dia de trabalho, o santo baixou, a pomba girou e em dez minutos fizemos as malas e partimos. O alemão não foi com a nossa cara, nem a gente com a dele.
Putos da vida, sem lugar para ir e molhados pela chuva, arranjamos uma carona ao centro da cidade, onde caímos dentro de um hostel super buena onda e conseguimos vender um site, garantindo nossa estadia por alguns dias antes de seguirmos viagem.
Tudo mudou quando caminhando pela rua, esbarramos com pessoas que tinham encontrado uma caixa cheia de cães filhotes abandonados. Às 21h dessa noite, a maioria já havia sido adotada, faltando apenas um pequeno vira-lata de pêlo esquisito e não muito mais que 20 cm. Olhamos para ele, ficamos com vontade de adotá-lo, mas o bom senso nos disse que não era uma boa ideia. Olhamos de novo e dissemos não. Uma vez mais e… talvez?
Esse cão preto com patinhas brancas agora se chama Fernet e dorme nas nossas mochilas.
Em três semanas o Fernet cresceu, engordou e virou nosso compa. Ensinamos ele a sentar, deitar, atender seu nome e fazer xixicocô na terra. O vacinamos e alimentamos. Ele nos acorda com lambidas e mordidas. Aprendemos a viver com ele, e ele nos faz sentir um pouco mais em casa e, ao que tudo indica, ele também vê na gente a casinha dele.
Como um nenê-cachorro é muito adorável, a dona do Hostel (que é gente finíssima) também está apaixonada pelo Fernet, e quer que ele more aqui. Vivemos agora uma das dúvidas mais difíceis da viagem: levá-lo sem saber muito bem como, ou deixá-lo sabendo que aqui haverá amor e comida?
De qualquer jeito, um pedaço de nós será pra sempre Mendozino.
Fernet, Senta!
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